Nelson Düring
Editor-chefe DefesaNet
A indústria aeronáutica mundial observou a cidade de North Charleston, na Carolina do Sul, o rollout da nova versão do Boeing Dreamliner o B787-10, na sexta-feira.
A BOEING fazia o rollout da versão 10, última da avançada linha de aeronaves comerciais Dreamliner, a série B787. A versão B787-10 transporta 330 pax versus 242 pax, do B787-8.
Porém, os olhos e ouvidos estavam sintonizados no presidente americano Donald Trump. (acesse a íntegra do discurso em TRUMP Policy – President Trump at Unveiling of Boeing 787 Dreamliner Aircraft Link)
Ainda mais as declarações no início da administração Trump sobre os custos da futura aeronave presidencial Air Force One, em desenvolvimento pela Boeing.
Seguem trechos do discurso:
“We are going to enforce — very strongly enforce our trade rules and stop foreign cheating. Tremendous cheating. Tremendous cheating. We want products made by our workers, in our factories, stamped with those four magnificent words: Made in the USA. (Applause.)"
A pláteia composta por funcionários da Boeing e Militares entoava: U-S-A! U-S-A! U-S-A!
E para terminar um discurso em clima de campanha eleitoral e após anunciar uma possível “Big order” do caça E/F-18 Super Hornet.
“That’s my message here today. America is going to start winning again — winning like never, ever before. We are not going to let our country be taken advantage of anymore in any way, shape or form. We love America, and we are going to protect America. We love our workers, and we are going to protect our workers. We are going to fight for our jobs, we are going to fight for our families and we are going to fight to get more jobs and better-paying jobs for the loyal citizens of our country. Believe me.”
Uma das equipes que mais estava interessada no discurso de Donald Trump era a de Paulo Cesar de Souza e Silva (foto acima), presidente da EMBRAER, desde junho 2016.
Com suas ações negociadas na Bolsa de Nova York, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), que tem usado o termo ‘brasileira’ cada vez menos, pode aportar de vez nos Estados Unidos por exigência de seu novo presidente.
O board de executivos cada vez mais integrado por norte-americanos na sua intenção de ampliar suas fábricas em solo estadounidense já vinha norteando o crescimento da ex-estatal em sua política de expandir suas fronteiras. Trump e BOEING formam a parceria ideal para acelerar esse processo.
Interessante, que em entrevista para a Revista Isto É Dinheiro (Acesse aqui), publicada no dia 17FEV2017, Paulo Cesar não menciona, em nenhum momento, a expansão das atividades industriaia nos Estados Unidos (unidades no Estado da Flórida). E o centro de Engenharia Avançada que também está localizado na Flórida.
Hoje 100 % da produção de aeronaves executivas está sendo finalizada no Estados Unidos. As aeronaves Ejets, Série E170-190 ainda são produzidas e finalizados no Brasil.
Considerando que cerca de 50% dos componentes das aeronaves comerciais são de origem americana (motores, aviônicos, metais, etc.).
A importância dos Estados Unidos no faturamento da EMBRAER pode ser avaliado nestes dados do Balanço.
Aviação Comercial |
Defesa e Segurança |
Aviação Executiva |
Outros | Total | % | |
América do Norte | 1,968 | 0,165 | 0,788 | 0,021 | 2,943 | 58 |
Europa | 0,223 | 0,144 | 0,313 | 0,002 | 0,653 | 11 |
Ásia Pacífico | 0,436 | 0,025 | 0,209 | – | 0,671 | 13 |
América Latina | 0,026 | 0,013 | 0,196 | – | 0,235 | 4,6 |
Brasil | 0,061 | 0,408 | 0,019 | 0,003 | 0,493 | 9 |
Outros | 0,035 | 0,012 | 0,003 | – | 0,051 | 0,1 |
Total | 2,751 | 0,739 | 1,530 | 0,026 | 5,048 | 100* |
Valores Bilhões de Reais
Dados Balanço EMBRAER 2015
Observar que, em todas as áreas de atuação da EMBRAER a importância do mercado americano é relevante, e em algumas como a aviação comercial supera 60%, no passado foi quase 90%. A área de Defesa também tem uma crescente participação dos Estados Unidos.
Os acordos com o Departamento de Defesa para o Programa LAS (Light Attack Support), onde o A-29 Super Tucano foi escolhido pela USAF para ser parte de vendas a aliados, via o sistema Foreign Military Sales (FMS). Sistema que tem crédito e controle do governo americano.
Inauguração da expansão da planta da EMBRAER em Melbourne, Florida, para produção de jatos Executivos Legacy. Junho 2016.
Esta atração da EMBRAER ao mercado americano também foi seguida pelo Airbus Group (instalou uma planta de montagem do A320, em Mobile, Alabama). Ao todo são 38 unidades do Airbus Group, em 16 estados americanos.
A Dassault Aviation também tem uma planta nos Estados para finalização dos jatos executivos Falcon para o mercado americano.
A Associated Press fez uma interessante comparação com os discursos de OBAMA, há cinco anos na planta da Boeing, em Everett, e Trump agora. Ambos na Boeing.
Dizia OBAMA (Everett – 2012):
“America needs to prepare for the loss of factory jobs to automation and retool its economy.”
Donald TRUMP (North Charleston – 2017):
“This is our mantra: Buy American and Hire American.”
A primeira vista o Mantra de Trump é simplório, mas tem encoberto uma política de logo prazo. Controlar a Cadeia Produtiva Global de alta tecnologia na área aeroespacial e de defesa.
A principal medida adotada pelo governo Dilma (2015) e seguida pelo governo Temer (2016), é de tentar inserir a Base Industria de Defesa Brasileira (BID) na cadeia produtiva de Defesa dos Estados Unidos.
Trump sabe que é impossível para uma empresa alocar a quantidade de recursos tecnológicos, capacidade produtiva e capital para colocar em produção uma aeronave como o B787.
O jornal Seattle Times realizou um interessante trabalho mostrando a cadeia produtiva do B787. Verifique e surpreenda-se com os paises que integram a cadeia produtiva do Dreamliner. Clique na Imagem.
Cadeia Global de Produção do BOEING Dreamliner (Clique na Imagem)
O curioso é que a BOEING veio estudar a São José dos Campos, início dos anos 2000, a cadeia produtiva global da EMBRAER, que tinha sido montada já no EMB145 e aperfeiçoada com a Família dois EJets170/190.
O que pensa e o que propõe o novo presidente Paulo Cesar de Souza e Silva? Ser Player Global ou se inserir em uma cadeia global? Para ambas as perguntas uma terceira; em quais nichos de mercado?
Trump endurece o jogo, que já era muito duro. E um terreno árido para respostas fáceis na conjuntura mundial atual.
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