Paola de Orte
especial para O Globo
WASHINGTON – Em reunião nesta terça-feira no Pentágono com o ministro da Defesa brasileiro, general Fernando Azevedo e Silva, o secretário de Defesa em exercício dos EUA, Patrick Shanahan, disse que "o espírito da velha expressão das Forças Armadas brasileiras continua verdade hoje: a cobra vai fumar".
A fala aconteceu quando o secretário descrevia os temas nos quais gostaria de trabalhar conjuntamente com o Brasil, como cooperação e colaboração industrial na área de defesa, pesquisa e desenvolvimento, área cibernética e do espaço.
Honored to welcome Brazilian MinDef Fernando Azevedo e Silva to the Pentagon today as we begin a new era in our long-standing defense relationship. I look forward to enhancing our strategic partnership by capitalizing on its designation as a major non-NATO ally. pic.twitter.com/06YqkS67Lo
— Acting SecDef Pat Shanahan (@ActingSecDef) 26 de março de 2019
– Eu sei que o comando ciberespacial dos Estados Unidos, junto com o Comando Sul dos Estados Unidos, quer trabalhar com o comando do Brasil para fortalecer a segurança nessas áreas – afirmou ele. – O espírito da velha expressão das Forças Armadas brasileiras continua verdade hoje: a cobra vai fumar.
Shanahan fazia referência à expressão usada durante a Segunda Guerra Mundial pelos militares brasileiros. Durante as negociações para o Brasil entrar na guerra ao lado dos Aliados, surgiu a brincadeira de que o Brasil só teria uma Força Aérea própria e entraria na guerra “no dia em que a cobra fumasse”. Depois de os planos de Getúlio Vargas se concretizarem, surgiu a expressão “a cobra vai fumar”.
A colaboração entre Brasil e Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial foi citada diversas vezes na última semana em Washington, desde a visita do presidente Jair Bolsonaro à capital americana. Nos jardins da Casa Branca, Trump disse que “na Segunda Guerra Mundial, o Brasil foi o único país sul-americano a contribuir com tropas para o esforço dos Aliados”.
O general Azevedo e Silva também citou a cooperação durante a reunião no Pentágono:
– Um fato que nos aproximou muito foi estarmos juntos lutando pela democracia na Segunda Guerra Mundial. Estávamos lado a lado, Brasil e Estados Unidos, nos campos da Europa durante a guerra — afirmou. — Os próprios brasileiros não acreditavam no nosso sucesso durante a guerra e até falavam que era mais fácil a cobra fumar do que os soldados brasileiros terem êxito junto com os americanos nos campos de batalha da Europa. E a cobra fumou.
? #Photo: Today in Washington, Minister of Defense Fernando Azevedo e Silva signed the Brazil-U.S. Agreement on Technology Safeguards associated with U.S. participation in launches from the Alcântara Space Center. ???? pic.twitter.com/1FAehQGPTY
— Embassy of Brazil – USA (@BrazilinUSA) 26 de março de 2019
Antes da reunião, jornalistas perguntaram ao ministro se o Brasil cogitava a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela.
– Não estamos verificando esta hipótese. O Brasil torce e tem certeza de uma solução pacífica e rápida em relação à Venezuela – respondeu Azevedo.
Bolsonaro tem vinculado a sua imagem aos Estados Unidos e a Donald Trump, cujo mandato se encerra no próximo ano. Segundo especialistas, a estratégia lhe trouxe vitórias durante a viagem a Washington na semana passada, mas também acarreta riscos de subordinação e de alinhamento automático, além de possíveis indisposições com outros países, como potênciais europeias e a China.
Agenda do Ministro da Defesa Fernando Azevedo,em Washington (EUA),na terça-feira, como publicado no site do Ministério da Defesa. 10h – Reunião com o Secretário de Segurança Nacional, John Bolton. Local: Casa Branca 11h15 – Cerimônia no Cemitério de Arlington. Local: Cemitério Nacional de Arlington 12h30 – Almoço com Embaixador do Brasil e Adidos Militares. Local: Embaixada do Brasil em Washington 15h – Encontro com Secretário de Defesa dos EUA, Patrick Shanahan. Local: Departamento de Defesa/Pentágono 19h30 – Jantar com o Secretário de Defesa dos EUA, Patrick Shanahan. |
O ministro brasileiro foi recebido no Pentágono em uma cerimônia que contou com honras militares, incluindo tiros de canhão e a execução do hino nacional brasileiro pela banda militar, logo antes da execução do hino americano. O general assistiu à cerimônia ao lado do secretário de Defesa, que havia dito pouco antes que esperava que a reunião fosse “ótima”.
Minister of Defense Fernando Azevedo e Silva arrived at the Pentagon today with a full honor ceremony, which included a beautiful rendition of Brazil’s National Anthem. @DefesaGovBr @DeptofDefense @ActingSecDef pic.twitter.com/jwLwLEh0ye
— Embassy of Brazil – USA (@BrazilinUSA) 26 de março de 2019
O secretário de Defesa americano falou que a visita de Bolsonaro aos Estados Unidos mostrou que a “relação entre Brasil e Estados Unidos está entrando numa nova era” e que o fato de Trump ter designado o país como grande aliado extra-Otan reflete a “realidade do Brasil como um parceiro estratégico e respeitado”.
– A liderança do Brasil no nosso hemisfério e para além dele é bem-vinda – afirmou Shanahan.
O ministro da Defesa brasileiro também fez comentários bem-humorados. Disse que morou nos Estados Unidos quando era criança, mas que, naquela época, aprendeu só as palavras que o interessavam: hot dog, cheeseburguer e ice cream .
Ele também destacou o interesse do Brasil em avançar a negociação para que o Brasil seja um grande aliado extra-Otan dos Estados Unidos.
–Temos consciência da importância da liderança do Brasil no cenário sul-americano.
Se confirmada, a designação do Brasil como “aliado importante extra-Otan” possibilitará ao país ter acesso a vantagens militares e financeiras, como a aquisição de equipamentos militares americanos excedentes a preços baixos e a participação em projetos de pesquisa e desenvolvimento com o Departamento de Defesa dos EUA. Embora a designação conferida por Washington não implique em obrigações, contrapartidas politicas são esperadas por Washington, afirmam especialistas.
Brazil's Minister of Defense Fernando Azevedo e Silva and Acting Secretary of Defense Patrick M. Shanahan met in Washington, D.C. today for talks about the military-to-military relationship between their nations. pic.twitter.com/NXDdDk1i9F
— Embassy of Brazil – USA (@BrazilinUSA) 26 de março de 2019