CCOMGEX: do SISFRON à Guerra Eletrônica, a arte de proteger o País


Valéria Rossi


O novo comandante do Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército (CCOMGEX),  General-de-Brigada Carlos Roberto Pinto de Souza, tem pela frente muitos desafios e uma grande missão: proteger o País em diversas frentes. Seja nas fronteiras, em áreas de favelas, grandes eventos, ou mesmo em “fronts” virtuais, o CCOMGEX é uma das Forças convocadas sempre pronta a apoiar.
 
E sobre essa tarefa, o general fala com orgulho e chama a atenção para os trabalhos e grandes Projetos Estratégicos desenvolvidos pelo Exército Brasileiro, fundamentais para segurança e desenvolvimento do País.
 
Recentemente, por exemplo, o centro anunciou que poderá auxiliar as ações militares no processo de pacificação do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. O local será monitorado por câmeras e as imagens serão transmitidas em tempo real ao Comando do Exército, em Brasília. Segundo o general, a medida faz parte da expansão dos testes relacionados ao uso da frequência 700 MHz na área de segurança, iniciados em Brasília, em 2012.
 
De acordo com o general, os estudos para uso do sistema devem estar prontos ainda no primeiro semestre deste ano, mas ele não disse quando será o início das operações online na Maré.
 
Em outra frente, não menos perigosa,o Gen Bda Carlos Roberto trabalha para a implantação do SISFRON (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras) na região amazônica. Depois de encerrado o seu Projeto Básico, em 2012, o SISFRON encontra-se no segundo ano de implantação de seu projeto-piloto, na área da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, que tem sede em Dourados (MS).
 
Fora do terreno físico, o novo comandante do CCOMGEX destaca os perigos, riscos e o que vem sendo feito para combater as guerras virtuais. Ao longo de mais de duas décadas a atividade de guerra eletrônica vem se desenvolvendo e aperfeiçoando dentro do Exército Brasileiro. “No dia 23 de maio formamos o guerreiro eletrônico número 1000,  prova inconteste da eficácia da 1ª Escola de GE (Guerra Eletrônica) da América Latina”.
 
Na visão do general, os desafios no setor de defesa são inúmeros e as parcerias são extremamente necessárias para ganhar as batalhas. Nesse contexto, ele destaca a participação da ABIMDE como sendo fundamental para o esforço de desenvolvimento, recuperação e consolidação de um pujante Parque Industrial de Defesa. “Num momento em que muito se discute um nocivo processo de desindustrialização, avultam de importância as iniciativas da ABIMDE para cooperar com o esforço de nacionalização das aquisições da área de defesa no Brasil, que hoje figura como um significativo mercado com previsão de investimentos da ordem de dezenas de bilhões de dólares”.
 
INFORME ABIMDE – O senhor acaba de assumir o comando do CCOMGEX – que abrange alguns dos mais importantes Projetos Estratégicos do Exército Brasileiro, quais as suas expectativas?
 
Gen Bda Carlos Roberto Pinto de Souza – As expectativas são muitas: grande responsabilidade e grandes desafios. Suceder aos generais Geromel (Antonio Sergio Geromel) e Santos Guerra (Antonino Santos Guerra), chefes exemplares e grandes realizadores, por si só, já representa enorme responsabilidade.
 
Comandar uma organização constituída por cinco Organizações Militares Diretamente Subordinadas (OMDS: CIGE, EsCom, 1º BGE, Cia C2 e Base Administrativa), integradas por cerca de 1.100 homens e mulheres, é um permanente desafio de exercício de liderança e de constante busca da excelência.
 
Nos últimos cinco anos, desde sua criação em fevereiro de 2009, o CCOMGEX contribuiu, decisivamente, para considerável aumento da capacidade operacional das OM de Comunicações e de importantes vetores de atuação estratégica da Força Terrestre (Comando de Operações Especiais, Brigada Paraquedista, Comando de Aviação do Exército e a 11ª Brigada de Infantaria Leve, dentre outras), especificando, avaliando, adquirindo, provendo e mantendo sistemas digitais de comunicações que elevaram sua eficácia no exercício do Comando e Controle (C2)de suas operações.
 
Os sistemas empregados nos grandes eventos realizados no Brasil, desde 2011: V Jogos Mundiais Militares (2011), Jornada Mundial da Juventude e Copa das Confederações (2013) e na Copa do Mundo de Futebol, neste ano, foram todos adquiridos e implantados a partir de 2010.
 
Além disso, foram executados os Projetos Básico do Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), atualmente em implantação de seu projeto-piloto, e o Brigada Braço Forte (BBF), que especificou cerca de 100 soluções técnicas para diversos sistemas da Força Terrestre, muitos deles já adquiridos pelo Projeto de Recuperação da Capacidade Operacional (RECOP).
 
IA – Como e quais são os projetos mais importantes hoje do CCOMGEX?
 
Gen Bda Carlos Roberto – Projeto SISFRON: Projeto Estratégico do Exército (PEEx) consiste em três projetos:

1 – Sensoriamento e Apoio à Decisão(executado pelo CCOMGEX);
2 – Infraestrutura (executado pelo Departamento de Engenharia e Construção – DEC), e,
3 –  Apoio à Atuação (sob a condução do COTer);

 
Projeto de Capacitação e de Emprego Operacional de Guerra Cibernética: Integrante do PEEx Defesa Cibernética, de fato um projeto de interesse do Ministério da Defesa sob a coordenação do Exército (executado pelo Centro de Defesa Cibernética), do qual o CCOMGEX participa com suas duas escolas (CIGE e EsCom – na realização de cursos e estágios) e com o 1º Batalhão de Guerra Eletrônica (1º BGE – responsável pela criação e experimentação doutrinária da organização operacional de emprego à nível tático-operacional e em apoio às operações de nível estratégico);
 
Projeto de Recuperação da Capacidade Operacional (RECOP): Projeto Estratégico do Exército, do qual nos cabe executar as atividades afetas às Comunicações e Guerra Eletrônica.
 
Estamos também apoiando o  Estado-Maior do Exército
(EME) em projetos de experimentações doutrinárias sobre a nova organização da Arma Comunicações e na elaboração de novos manuais.
 
Face ao processo de transformação do Exército e seus vetores, doutrina, preparo, orçamento e finanças, educação e cultura, ciência e tecnologia, inúmeras atividades acarretam um grande envolvimento de nossas OMDS, sempre sob a direção setorial do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEX), do COLOG Comando Logístico (COLOG) e, no caso dos Projetos Estratégicos, diretamente do nosso órgão de direção geral, o EME, particularmente sob a coordenação do Escritório de Projetos do Exército (EPEx).
 
IA – O SISFRON está entre os principais Projetos Estratégicos do governo brasileiro, em qual estágio ele se encontra?
 
Gen Bda Carlos Roberto – Depois de encerrado o seu projeto básico, em janeiro de 2012, o SISFRON encontra-se no segundo ano de implantação de seu projeto-piloto na área da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Dourados (MS).
 
Trata-se da execução de um contrato de cinco anos com o Tepro, consórcio formado pelas empresas SAVIS e BRADAR (antiga Orbisat) da ordem de R$ 839 milhões.
 
Hoje, verificamos que sua implantação já contempla o Comando Militar do Oeste, com maior capacidade operacional na área da 4ª Bda C Mec, pela ativação de Pelotões e Esquadrões C Mec mais bem equipados em cidades na Faixa de Fronteira.
 
IA – Os cortes no orçamento afetaram o Sisfron?
 
Gen Bda Carlos Roberto – Até o momento não, mesmo porque o SISFRON foi incluído no PAC.
 
IA – Como o Exército avalia a participação da indústria nacional no projeto? Existe a participação de estrangeiras nesse ponto do programa? Se tivermos, futuramente, a participação de estrangeiras, como será tratada a questão de transferência de tecnologia?
 
Gen Bda Carlos Roberto – Alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa (END), o conteúdo nacional presente no Projeto SISFRON é da ordem de 75%. Efetivamente, há tecnologias críticas de interesse para a defesa que são fornecidas por empresas estrangeiras: a alemã MEDAV (receptores de guerra eletrônica), a canadense ADVANTECH (equipamentos de comunicações satelitais), a israelense ELBIT (optrônicos) e a norte-americana HARRIS Communications (comunicações táticas).
 
Entretanto, foram celebrados contratos de offset da ordem de US$ 210 milhões, que estão sendo executados no escopo do contrato de implantação do projeto-piloto, que transferem tecnologia para empresas nacionais como a BRADAR, a IBRASAT, a VISIONBYTE e o próprio Exército.
 
IA – Quais as expectativas do senhor em relação ao projeto SISFRON? Quando estará pronto?
 
Gen Bda Carlos Roberto – Em seu projeto básico, o SISFRON teve seu tempo de implantação estimado em 10 anos, desde que alocados recursos da ordem de R$ 1,2 bilhão/ano.
 
Devemos considerar que se trata de um projeto de extrema complexidade e de amplitude continental, afinal, se fosse um país a área de abrangência do SISFRON seria a 3ª maior na América do Sul em extensão territorial (2.533.000 km2). O esforço de implantação não se resume a uma questão puramente orçamentária, sendo imperativo gerenciar inúmeros riscos: capacitação e retenção de pessoal especializado na operação e manutenção dos sistemas; e esforço de especificação de novos sistemas que confiram todo o amplo rol de capacidades operacionais projetadas.
 
Portanto, admite-se que o cronograma estimado no projeto básico possa sofrer alterações no transcorrer da implantação que o acelerem ou que reduzam o seu ritmo em proveito de eventuais correções de rumo, ou mesmo pelo interesse de permitir à indústria nacional de defesa tempo suficiente para obter o retorno dos investimentos necessários ao esforço de absorção tecnológica.
 
Em 2015, projetamos enfrentar o desafio de iniciarmos a implantação na região amazônica, no que chamamos de piloto de área de selva, no território de responsabilidade da 17ª Bda Inf Sl, sediada em Porto Velho (RO).
 
Simultaneamente, será finalizada a implantação do projeto-piloto do Sisfron na área da 4ª Bda C Mec, em Dourados (MS), bem como a extensão de capacidades operacionais para as outras duas Brigadas do Comando Militar do Oeste (CMO): a 18ª Bda Fron, sediada em Corumbá (MS), e a 13ª Bda Inf Mtz, em Cuiabá (MT).
 
IA – A Guerra Eletrônica vem sendo foco de muitas discussões mundiais, gostaria que o senhor falasse um pouco da formação do Exército para essa área. Como o EB se prepara? Fale um pouco do CIGE
 
Gen Bda Carlos Roberto – O Centro de Instrução de Guerra Eletrônica (CIGE), primeiro centro de especialização e extensão na atividade de Guerra Eletrônica da América Latina, foi criado pelo Decreto Presidencial n° 89445, de março de 1984.
 
O CIGE ganhou vida com a ativação do Núcleo de Implantação do Centro de Instrução de Guerra Eletrônica (NICIGE), criado pela Portaria do EME n° 07, em fevereiro de 1985.
 
Para viabilizar a implantação do CIGE, foram priorizadas as ações relacionadas à formulação de doutrina e à capacitação de Recursos Humanos. Dentre as atividades realizadas pelo NICIGE, destacam-se: – a realização de cursos no exterior (Alemanha, França, Inglaterra e EUA), com vistas à formação de um núcleo de instrutores no CIGE;
 
– a aquisição de um Módulo Básico Experimental de Guerra Eletrônica (MBEGE) para atender as necessidades de qualificação de militares na atividade de guerra eletrônica;
– visitas às instalações fabris e militares no exterior, com o objetivo de colher informações técnicas e doutrinárias, e,
– a formulação da doutrina de guerra eletrônica do Exército Brasileiro.
 
Ao longo de mais de duas décadas, a atividade de guerra eletrônica vem se desenvolvendo e aperfeiçoando-se, ganhando cada dia maior reconhecimento.
 
Sua missão é capacitar os recursos humanos necessários às atividades de Guerra Eletrônica e realizar estudos visando sua evolução doutrinária. Integrado ao projeto de implantação do Setor Cibernético do Exército, mantém-se em condições de:
 
– Capacitar recursos humanos para o enfrentamento das ameaças cibernéticas aos Sistemas de Informação da Força Terrestre, planejando e conduzindo cursos de especialização e estágios, e,
– Realizar estudos a fim de contribuir com a formulação de doutrina para o setor.
 
No mês de maio formamos o Guerreiro Eletrônico número 1.000, prova inconteste da eficácia da 1ª Escola de GE da América Latina.
 
IA – Como o CCOMGEX avalia a tecnologia da indústria nacional se tivermos que enfrentar uma guerra eletrônica?
 
Gen Bda Carlos Roberto – Em todo o mundo são, ainda hoje, poucos os países que detém tecnologia de ponta em GE.
 
Podemos dizer que, fruto dos esforços do Sistema de C&T do Exército nos últimos 20 anos, a partir do Projeto Sitage (Sistema Tático de GE), que conduziu a aquisição do sistema da 1ª Cia GE, nos anos 90, adquiriu-se a capacidade de integração de sistemas de MAGE/Com (Medidas de Apoio à GE), meios passivos que permitem realizar a busca de interceptação, a localização eletrônica e a identificação e a análise técnica dos parâmetros que individualizam um determinado emissor.
 
Com o offset de GE do projeto-piloto do SISFRON veremos a concretização da absorção de tecnologia que habilitará uma empresa brasileira, a BRADAR, a produzir os primeiros receptores de MAGE/Com em território nacional.
 
IA – Recentemente, durante um evento para debater o uso de bandas da frequência de 700 MHz para a área de defesa e segurança das infraestruturas críticas, realizado no CCOMGEX, falou-se da participação do centro no apoio ao processo de pacificação do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. O que será feito?
 
Gen Bda Carlos Roberto – As imagens poderão ser usadas para planejamento das operações e também como prova nos casos de conflito envolvendo os militares.
 
As imagens vão permitir que não haja dúvida quanto ao que está ocorrendo e darão maior proteção ao militar que está no front. A nossa experiência com o emprego do LTE (sigla em inglês para Long Term Evolution, uma tecnologia 4G), em Brasília, feito pela Motorola, ampliou a capacidade operacional e a eficácia dos nossos militares na Copa das Confederações e em exercícios.
 
Para a missão que o Exército está desempenhado na Maré, é fundamental.
 
IA – Como o senhor considera a participação da ABIMDE no setor de Defesa do Brasil?
 
Gen Bda Carlos Roberto – A participação da ABIMDE é fundamental para o esforço de desenvolvimento, recuperação e consolidação de um pujante Parque Industrial de Defesa, que possa prover às Forças Armadas as capacidades operacionais necessárias ao cumprimento de sua missão constitucional, com elevado grau de independência, além de contribuir para a ampliação de nossa pauta de exportação, com produtos de elevado valor agregado e conteúdo de emprego dual.
 
Suas iniciativas relacionadas aos assuntos de defesa abarcam importantes e amplos aspectos de estudos e propostas de incentivos tributários, logística e mobilização, fomento à ciência, tecnologia e inovação, e a sugestões para a viabilização da implementação da Política e da Estratégia Nacional de Defesa pela criação de organizações públicas para a sua efetiva gestão.
 
Num momento em que muito se discute um nocivo processo de desindustrialização, avultam de importância as iniciativas da ABIMDE para cooperar com o esforço de nacionalização das aquisições da área de defesa no Brasil, que hoje figura como um significativo mercado, com previsão de investimentos da ordem de dezenas de bilhões de dólares

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