Sarout – Brasil perde oportunidade de ingressar no mercado árabe

Júlio Ottoboni
Especial para DefesaNet


Mesmo com o PAC para empresas de tecnologia de ponta com expectativas de fortalecer a posição das companhias brasileiras no mercado externo o cenário permanece nebuloso. Não pela iniciativa do governo, mas pela falta de visão estratégica e arrojo do empresariado nacional. Essa é a opinião do engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e representante comercial dos países árabes  junto ao mercado de defesa e de tecnologia aeroespacial, Khaled Sarout.

"Falta conhecimento, arrojo e tradição na cultura exportadora no Brasil, isto se deve a falta de visão estratégica dos empresários que são totalmente dependentes do mercado interno gerado pelas compras do governo federal", critica Sarout, que é proprietário da consultoria Amani Negócios Internacionais.

O Brasil opera com o países árabes basicamente em commodities e muito pouco com produtos industrializados com alto valor agregado, particularmente no segmento de defesa cuja demanda é constante e crescente para essa região.  Segundo Sarout, os árabes necessitam de mercadorias que tragam tecnologia de ponta e com especificações únicas desde o armazenamento, uso até a  adequação aos rigores do clima local.

Em 2008 os investimentos dos 22 países árabes fora de suas fronteiras alcançou a cifra de U$ 4 trilhões. Esse montante vem crescendo anualmente e já para 2015 a projeção é de Us$ 15 trilhões. O Brasil tem sido preterido neste processo, tal a morosidade em se reagir diante das novas expectativas. De acordo com o consultor, no país há muito pouco investimento direto dos árabes, o que chega é por meio indireto, como as empresas americanas e europeias de capital controlado por essas nações.

"Se os árabes pedem um produto específico, eles fazem o investimento necessário em pesquisa e desenvolvimento. Eles estão preparados para isto e agem assim diante do mercado internacional, pois tem um alto poder de investimento. No mundo árabe não tem empresas e nem pessoal para isto, mas exigem comprometimento de seus clientes e é quando o empresário brasileiro recua, mesmo diante de milhões de dólares somente para desenvolver o produto que eles necessitam", reclama Sarout.

Segundo o consultor, ele mesmo já chegou a preparar apresentações das empresas nacionais e de seus produtos para mostrar o que era produzido em solo nacional. Isto foi feito pela falta de organização das empresas brasileiras para exportar seus produtos e se mostrar como fornecedores sérios e comprometidos. "Os árabes aplicam milhões, mas exigem esse compromisso", salientou o engenheiro.

O amadorismo, segundo ele,  é tamanho que uma boa parte das empresas do segmento de defesa sequer possuem peças publicitárias institucionais destinadas ao consumidores estrangeiros. Para Sarout, a situação chega a ser constrangedora tamanha a falta de profissionalismo, principalmente se comparado a outros países como os Estados Unidos e do integrantes da União Europeia.

"Tive casos dos árabes chegarem com um aporte de milhões de dólares para algumas empresas brasileiras adaptarem alguns armamentos e equipamentos as necessidades deles, já que nos Emirados Árabes, por exemplo, se tem uma umidade de 20% durante o dia e de 100% a noite. A transferência do dinheiro estava pronta para ocorrer quando os empresários brasileiros começaram a colocar obstáculos, o principal deles era sobre o trabalho que os projeto daria. Os árabes propuseram aumentar a soma do investimento e mesmo assim a encomenda foi recusada pelos brasileiros", revelou Sarout que os sheiks deixaram a local de reunião indignados e sem compreender qual a razão da recusa.

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