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FAB – O Caça A-1 Renasce

Matéria publicada na revista AEROVISÃO da FAB Edição 232


Humberto Leite


Velocidade, altitude, ângulo, vento, peso e muitos outros cálculos precisavam estar perfeitos para que um piloto de caça da Força Aérea Brasileira conseguisse atingir seu alvo em um ataque. O desafio era o mesmo desde os pioneiros veteranos na Segunda Guerra Mundial até aqueles que, décadas depois, já voavam supersônicos. Mas, de repente, um novo avião tornou tudo muito mais fácil: computadores de bordo ajudavam o caçador e tornou-se cada vez mais comum voltar dos treinamentos com um índice de acertos surpreendente. Essa revolução aconteceu no início  dos anos 90, quando o Embraer AMX, designado na FAB como A-1, trouxe para as linhas de voo tanta tecnologia que ficou conhecido como “O Avião Computador”.
 
Nesses 20 anos, por influência direta do A-1, mudou-se completamente a forma de voar uma missão de combate no Brasil. Com os novos A-29 Super Tucano e a modernização dos F-5, a tecnologia passou definitivamente a fazer parte do cotidiano dos pilotos de caça, e aquilo que era novidade passou a ser corriqueiro. Mas 2012 trará para a FAB um novo capítulo na história desse caça-bombardeiro-reconhecedor, que vai voltar a assumir o papel de destaque na linha de frente da defesa do país.
 
Desenvolvido na década de 80, em uma parceria entre Brasil e Itália, o caça A-1 (AMX) será modernizado pela Força Aérea Brasileira e ganhará sobrevida de mais 20 anos Linha de produção da Embraer, em Gavião Peixoto (SP), onde os caças A-1 passam por processo de modernização.
 
O projeto de modernização de 33 caças A-1A monoposto e 10 A-1B biposto capacita a FAB  para combater nos teatros de operações de combate atuais e pelos próximos 20 anos. Após um ano de testes, a primeira entrega de A-1M (Modernizado) vai acontecer em 2013 e a última será em 2017. “A aeronave modernizada deverá ter a capacidade de realizar ataques de precisão contra alvos de superfície com o mínimo de perdas e de danos colaterais, além de missões de reconhecimento aéreo com alta probabilidade de êxito”, explica o Coronel-Aviador Márcio Bonotto, da Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), subordinada ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), que gerencia o projeto de modernização.
 
A revitalização irá ampliar as capacidades da aeronave, entre elas a de sobreviver a missões perigosas. Ainda em 1994, os então recém-incorporados A-1 participaram da primeira operação Tigre, quando ao lado dos F-5E foram testados em combates simulados contra os F-16 Fighting Falcon da Força Aérea dos Estados Unidos. Os americanos tiveram tanta  dificuldade em enfrentar o novo caça brasileiro que os apelidaram de “The Bee” (As Abelhas). Nas operações Tigre I (1994), realizada em Porto Rico, Tigre II (1995), em Natal (RN), e Tigre III (1997), em Santa Maria (RS), os A-1 não apenas conseguiram realizar seus ataques simulados como também venceram em combate, mais de uma vez, caças F-16 que tentaram interceptá-los.
 
Testes – Mas a qualidade dos A-1 e dos pilotos brasileiros foram atestados em 1998, quando seis A-1 do 1°/16° Grupo de Aviação, o Esquadrão Adelphi, representaram a Força Aérea Brasileira, pela primeira vez, na operação Red Flag, a mais realística guerra aérea simulada do mundo, realizada no deserto da Nevada, nos Estados Unidos.  Em um ambiente repleto de caças F-15 Eagle, F-16, F-18 Hornet, F-5 Tiger III e sistemas que simulavam presença de baterias antiaéreas de mísseis como SA- 6, SA-3 e Roland, os A-1 conseguiram sucesso nas suas missões de ataque e sobreviver às ameaças que representavam o que havia de mais moderno na guerra aérea no mundo.
 
Além da manobrabilidade, os caças da FAB se valeram do seu sistema que avisa quando está na tela de um radar (Radar Warning System, conhecido pela sigla RWR) e iscas contra mísseis guiados por radar (chaff) ou calor (flare). Mas esses artifícios já precisavam ser melhorados, o que acontecerá na modernização. “O A-1M terá um sensível aumento de sua capacidade de sobrevivência em ambiente hostil, permitindo ao avião, além de esconder- -se fisicamente da detecção de radares voando a baixa altura, esconder-se também eletronicamente”, afirma o Coronel Bonotto.
 
Tanto o RWR quanto os lançadores de iscas serão revitalizados e integrados. Isso quer dizer que o piloto poderá ter uma consciência bem maior das ameaças em torno do caça. Além disso, as contramedidas poderão ser acionadas automaticamente, o que reduzirá o tempo de reação e a aumentará a capacidade de sobrevivência.
 
Depois de modernizados, os A-1 também poderão perceber não apenas as emissões de radares dos inimigos, mas também se eles já abriram fogo. Um Sistema de Lançamento e Aproximação de Mísseis (Missile Airborne Warning System – MAWS) conseguirá identificar e classificar os disparos tanto de aeronaves interceptadoras quanto de baterias antiaéreas. Para isso, conta com sensores ativos e passivos, como antenas que detectam emissões de radares embarcados em mísseis e sistemas laser que conseguem perceber a aproximação das ameaças.
 
Outra novidade será o casulo Skyshield, capaz de despistar e até bloquear radares em solo ou embarcados de busca ou aquisição de alvo. Em resumo, aquela estação em solo ou aeronave de caça que tentar utilizar radares para detectar os A-1M da FAB poderão ter interferências em seus sistemas. O Skyshield poderá ser carregado externamente nos A-1M e, quando instalado, será possível proteger não apenas o próprio caça, mas também esquadrilhas inteiras em espaço aéreo hostil.
 
Mais que sobreviver, no entanto, é preciso ter capacidade de encontrar e, se preciso, destruir os alvos. É essa a missão para qual foi projetado o AMX: penetrar em território hostil e atingir objetivos estratégicos. Para isso foi dotado de computadores que ajudam os pilotos no lançamento das armas com precisão. O caça receberá o radar SCP-01, construído em uma parceria da empresa italiana Selex Galileu com a brasileira Mectron, que literalmente fará com que os pilotos vejam além do alcance.
 
O radar permitirá encontrar alvos no solo em distâncias maiores e aumentar a precisão do lançamento de armas. Em modo ar-ar, poderá ter controle do espaço aéreo a sua volta, para avaliar as ameaças, conseguir fugir dos interceptadores e, se não for possível O primeiro A-1M a sair da linha de produção da Embraer, em Gavião Peixo (SP) evitar o combate aéreo, utilizar o radar para aumentar a chance de acertar seus mísseis de autodefesa. Apesar da defesa aérea não ser a missão primária do A-1, o jato poderá se tornar uma opção aos comandos operacionais para cumprir essa tarefa.
 
O radar SCP-01 também possui modos ar-mar, o que dará ao A-1M a possibilidade de voar missões contra alvos navais. Ao lado dos recém-adquiridos aviões de patrulha P-3AM, a aviação de caça da FAB estará pronta para defender a região onde há as reservas de petróleo da camada pré-sal, riqueza brasileira descoberta nos últimos anos.
 
Tanto sobre mar quanto terra, os A-1M poderão contar ainda com casulos de reconhecimento capazes de visualizar pontos de interesse de dia, de noite e nos espectros infra-vermelho e termal. Também poderão ser visto sob as asas dos jatos casulos laser de designação de alvos, que possibilitarão o uso de bombas inteligentes. Os A-1M também serão todos compatíveis com o uso de óculos de visão noturna (Night Vision Googles – NVG), que permitem enxergar à noite.
 
De acordo com o Coronel Bonotto, é esperado um acréscimo superior a 30% nas funções e no gerenciamento de cargas bélicas. “O acréscimo de sensores propicia ao piloto uma maior consciência situacional, ou seja, uma melhor percepção do ambiente à sua volta, facilitando seu processo decisório em função da grande quantidade de informações disponíveis”, resume.
 
As possibilidades de uso de armamentos também serão ampliadas.  “Poderemos utilizar os artefatos com mais velocidade e em situações mais críticas, expandindo seus limites e diminuindo o tempo de exposição da aeronave durante os ataques”, afirma. Os A-1M também poderão, em um futuro próximo, lançar mísseis anti-radar, que utilizam as próprias emissões dos radares hostis como referências até atingir o alvo, uma arma típica para missões de supressão de defesas inimigas (Suppression of Enemy Air Defenses – SEAD).
 
Para lidar com tantas informações, os pilotos vão contar agora com uma cabine completamente remodelada. Vários “relógios” e instrumentos analógicos serão substituídos por três telas multifuncionais que vão mostrar cada dado de forma mais simples, de acordo com a missão e com o interesse do piloto. Além disso, o display na altura da visão (Head Up Display – HUD) será integrado aos sistemas de navegação, ataque e gerenciamento de sensores e armas, oferecendo uma maior consciência da situação tática ao piloto.
 
No total, serão 121 polegadas quadradas de mostradores digitais com interface amigável. Ainda assim, os pilotos contarão ainda com um display montado no próprio capacete (Helmet Mounted Display – HMD), que entre outras vantagens permite, por exemplo, direcionar mísseis de acordo com o movimento da cabeça do piloto. Para controlar tudo isso, todos os instrumentos estarão ao alcance dos dedos, sendo possível voar toda a missão sem retirar as mãos do manche e da manete de potência, de acordo com o conceito HOTAS (Hands-on Throttle And Stick).
 
Uma das elogiadas vantagens do A-1 também será mantida: o seu alcance. No dia 22 de agosto de 2003, dois desses caças decolaram da Base Aérea de Santa Maria (RS) e fizeram um voo até Natal (RN), sobrevoaram o Amapá, no extremo Norte do país, em um percurso que incluiu simulações de ataque e navegação à baixa altura. Com o uso de reabastecimento em voo, os aviões percorreram 6.700 km em 10 horas e 5 minutos, uma prova da capacidade da aviação de caça cobrir todo o país e atingir alvos distantes.(DefesaNet – Leia detalhes da Operação Estratégica Link)
 
Missões desse tipo continuarão possíveis, mas agora com maior segurança e menor carga de trabalho para os pilotos. Uma nova suíte eletrônica vai integrar rádios, sistemas de navegação e datalink. Também haverá um sistema de instrumentos de voo reserva (Back-Up Flight Intrumentation – BFI), que, em caso de falha dos sistemas principais, poderá ser usado para um retorno seguro após uma pane ou no caso de aeronave vir a ser atingida por fogo inimigo. Todos os voos serão gravados digitalmente. Isso vai permitir, por exemplo, que após o pouso de um piloto novato seu instrutor possa comentar cada detalhe da missão.
 
Além dessas melhorias, a modernização dos A-1 também tornará sua operação mais econômica. Os 54 aviões hoje em uso, apesar de bastante semelhantes, são de três lotes diferentes que têm alguns sistemas distintos, o que complica a manutenção. “Ocorrerá uma redução significativa na quantidade de itens em processo de obsolescência, bem como maior participação da indústria nacional no suporte à aeronave e, consequentemente, uma menor dependência externa”, completa o Coronel Bonotto.
 
Os A-1M serão todos idênticos, o que reduzirá os custos com logística e formação de mecânicos. A passagem pela unidade industrial da Embraer em Gavião Peixoto (SP) também envolve um reforço na própria estrutura física dos caças, para assegurar mais 20 anos de voos.
 
História – Projetado na década de 80 em uma parceria entre a Itália e o Brasil, o A-1 entrou em operação nas Forças Aéreas desses dois países em um cenário de mudanças de táticas e doutrinas após o fim da Guerra Fria. Apesar disso, o caça conseguiu ser adequado para o século XXI e provar na prática que ainda é um vetor de importância estratégica. A Itália também decidiu modernizar seus AMX, chamados localmente de “Ghibli”, que deverão voar até aproximadamente 2020.
 
Em 1999, ainda sob dúvidas quanto a sua eficácia, os AMX italianos tiveram seu batismo de fogo na Operação Allied  Force, na Bósnia. Ao final, 66% das missões da Força Aérea Italiana naquele conflito foram realizadas pelo “Ghibli”. Desde 2009 estes jatos também são presença constante no Afeganistão, como parte das forças da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no combate às forças talibãs.
 
Em 2011, os AMX italianos também participaram no confl ito na Líbia, quando voaram 550 horas em missões de reconhecimento e ataque, com o uso de bombas inteligentes. Em um cenário de crise econômica, os AMX ganharam destaque por cumprirem suas missões com efi ciência e um custo operacional menor que outros aviões, como o Eurofigther e o Tornado.
 
A FAB também operou com sucesso os seus três Esquadrões que operam o caça (Adelphi, Poker e Centauro) nas quatro edições do exercício Cruzeiro do Sul (CRUZEX), que simula uma guerra com uma força de coalizão. “O A-1 é capaz de se adaptar às mais modernas táticas da guerra aérea. Com a modernização, será um sistema de armas ainda mais letal”,  afirma o Coronel Bonotto.

A-1 Ficha Técnica

Fabricantes: Consórcio Embraer (Brasil), Aermacchi e Alenia (Itália)
Turbina: Rolls-Royce RB 168-807 SPEY Turbofan sem pós-combustão
Vel. máxima: 1160 km/h
Vel. Cruzeiro: 950 km/h
Raio de Ataque: 800 km sem reabastecimento em voo
Peso vazio: 6.700 kg
Máx. decolagem: 13.000 kg
Envergadura: 9,97 m
Comprimento: 13,55 m
Altura: 4,55 m
Armamento: 2 canhões DEFA de 30 mm e até 3.800 kg de mísseis, bombas e foguetes
Tripulação: 1 ou 2
Operadores: Brasil e Itália
Esquadrões da FAB:
-1°/16° Grupo de Aviação (Adelphi) – Base Aérea de Santa Cruz
-1°/10° Grupo de Aviação (Poker) – Base Aérea de Santa Maria
-3°/10° Grupo de Aviação (Centauro) – Base Aérea de Santa Maria

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