Nota DefesaNet,
O Jornal O Globo publicou uma série de artigos na sua edição de 15MAR15, tratando da situação das empresas aéreas.
AÉREAS I – A decolagem das estrangeiras Link
AÉREAS II – Estrangeiras dominam rotas internacionais Link
Porém, de forma aséptica contorna um principal ponto, que DefesaNet tratará posteriormente.
O editor
por Glauce Cavalcanti /
Henrique Gomes Batista
RIO – O mercado brasileiro de aviação mudou. Deixou de ser uma divisão de bolo entre duas empresas e hoje são três jogadores de peso: Gol, TAM e Azul, já com um quarto participante com fôlego para crescer em campo, a Avianca. Enquanto as operações domésticas explodiram, companhias brasileiras perderam espaço nas rotas internacionais.
Entre 2003 e 2013, o número de frequências internacionais operadas no Brasil dobrou de 551 para 1.149. A fatia das estrangeiras nesse bolo subiu de 318 para 788 frequências, alta de 147%. Já a participação das brasileiras cresceu 55%. Hoje, as nacionais respondem por pouco mais de 30% das operações para o exterior.
Nos últimos anos, a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) concentrou esforços em atrair mais companhias estrangeiras para operar em um número maior de aeroportos do país, explica um executivo da agência, que prefere não se identificar.
— A desconcentração dos grandes hubs (centros de distribuição de voos) é nítida. A TAP (Portugal), a American Airlines (EUA) e a Copa (Panamá) voam, cada uma, para entre sete a 11 capitais do país. O cenário traz mais oportunidades e riscos para as empresas e o país. Mas tende a melhorar a concorrência e a infraestrutura, e a reduzir preços.
Ele lembra ainda que começa a valer em maio o acordo coms os EUA de céus abertos, pelo qual acaba o limite pré-estabelecido de número de voos para cada país na rota entre os dois destinos.
CUSTOS MAIORES
Reforçar as rotas internacionais é uma das metas do governo, assim como ampliar a aviação regional. Neste cenário, as empresas passaram a encarar concorrência muito maior: a AZUL, que ganhou status de líder em ligações regionais, cobrindo mais de cem cidades do país, vem adquirindo aviões de maior porte para crescer nas rotas mais concorridas, como São Paulo-Salvador. TAM e GOL fazem o caminho inverso, avaliando diversificar a frota, comprando aviões de menor porte da Embraer.
Já a AVIANCA aposta com força na ponte aérea Rio-São Paulo. Nas linhas para o exterior, o foco das aéreas são as Américas: as quatro reforçam voos para os EUA, enquanto a Gol quer se firmar na América do Sul e Caribe, mercados cativos da Latam (associação da Lan chilena com a TAM) e da Avianca.
Os custos são um dos impeditivos para a maior concorrência entre brasileiras e estrangeiras. Segundo a ABEAR, a associação de empresas do setor, isso pode colocar em xeque o projeto da presidente Dilma Rousseff de ampliar a aviação regional no país.
— Se a companhia mais eficaz da Europa viesse operar no Brasil, os custos dela subiriam em 27%. Aqui, o combustível equivale a 40% dos custos das aéreas, contra média mundial de 33% — disse Eduardo Sanovicz, presidente da entidade.
Para Elton Fernandes, professor da Coppe/UFRJ, existe um choque entre os altos custos e a queda da receita por assento por quilômetro voado. Para compensar isso, continua ele, seria preciso aumentar a produtividade de forma brutal:
— O preço médio das passagens está caindo. E há uma guerra de promoções. As aéreas não faturam o suficiente para cobrir seus custos que são altos.
André Castellini, sócio da Bain & Company e especialista em aviação, afirma que, apesar dos prejuízos bilionários do setor, em 2014 as aéreas conseguiram, com revisão de malhas e cortes de custos, ter resultados operacionais positivos. Ele acredita, contudo, que a equação de 2015, com PIB fraco, dólar alto e possivelmente ultrapassando a compensação da queda do combustível de aviação, vai gerar novos desafios para as empresas. Uma das incógnitas no setor este ano é a definição de quem comprará a TAP, companhia que tem voos para 12 cidades do país, o que garante 25% das vendas de bilhetes:
— A malha da TAP é complementar às rotas das empresas brasileiras. E para os portugueses seria interessante manter o hub em Lisboa. Eles temem a repetição do que ocorreu com a Iberia, que após ser comprada pela British, perdeu voos para Londres.
ACORDOS INTERNACIONAIS
Para crescer internacionalmente, a GOL desenha sua malha de forma que os voos se encaixem no alcance de sua frota, composta sobretudo por aviões Boeing 737-800. Como a aeronave não tem autonomia para voos de longo curso, as linhas internacionais estão concentradas em destinos da América do Sul, Caribe e EUA.
— Garantimos a otimização do uso da frota, com redução de custos e ganho de eficiência, trazendo melhores resultados — explica Eduardo Bernardes, vice-presidente de marketing e produtos da empresa.
Para garantir a oferta de voos de longo curso, a Gol optou por alianças e acordos de code-share (operações com voos compartilhados) com companhias internacionais. Já incluindo a parceria com a Air Canada, anunciada semana passada, a Gol soma dez acordos nesses moldes, além das alianças com Delta e Air France/KLM. O resultado se traduz em aumento de 25,7% da demanda internacional no ano passado.
A TAM, que perdeu a liderança do mercado doméstico para a Gol no fim de 2014, vem reforçando apostas nele. Comprou a Passaredo e vai operar em mais nove destinos regionais. No exterior, está chegando a cidades como Cancún, Toronto e Barcelona.
— Estamos mantendo todos os nossos investimentos internacionais para 2015 — diz Claudia Sender, presidente da TAM.
Com mais de cem cidades atendidas, a Azul cresce nas rotas mais concorridas, dominadas por Gol e TAM, e olha o mercado externo. Embora não comente o interesse na TAP, a compra da aérea portuguesa pode dar musculatura a ponto de levá-la à liderança do mercado.
A AVIANCA promete neste ano aposentar os MK-28, sigla para o famoso Fokker 100, entrar na maior aliança global de empresas aéreas, a Star Alliance, e talvez, se unir de fato à Avianca da Colômbia, que recentemente já entrou na Star Alliance e é o segundo maior grupo aéreo da América Latina, atrás apenas da Latam. O vice-presidente comercial da Avianca Brasil, Tarcísio Gargioni, diz que o crescimento da empresa tem sido acelerado:
— De 2011 até agora, nossa participação no mercado nacional saltou de 2,5% para 9%.
Na última década, país viveu consolidação no setor aéreo
Com exceção da TAM, nenhuma das líderes do segmento
era relevante no ano 2000
por Glauce Cavalcanti /
Henrique Gomes Batista
RIO – O atual cenário do mercado brasileiro de aviação era impensável há dez anos atrás. Com exceção da TAM, nenhuma das atuais empresas era realmente relevante no ano 2000. A derrocada das empresas tradicionais foi rápida e, curiosamente, em um momento de forte crescimento no número de passageiros.
A TAM conseguiu ocupar espaços deixados por companhias que saíram do mercado (Varig, Transbrasil, Vasp) e a GOL trouxe ao Brasil uma política de intenso uso de aeronaves, comum na Europa, inaugurando o conceito de baixo custo e baixa tarifa no país. A Azul segue o modelo da Jetblue, baseado em uma forte malha regional.
No caminho, empresas inovadoras e com baixo custo foram compradas — às vezes apenas para eliminar uma concorrente. Nestas aquisições estão nomes como WebJet, TRIP, VARIG e Passaredo.
E o Brasil começou a viver outra revolução: aeroportos privatizados. Cinco grandes terminais são controlados pela iniciativa privada: Guarulhos e Viracopos (SP), Galeão (Rio), Confins (MG) e Brasília, além do principal aeroporto de Natal. Para este ano são esperados leilões de Porto Alegre, Salvador e Florianópolis.