Russell Hotten e Jonathan Frewin
Depois de anos de crise, o setor aéreo mundial está se recuperando economicamente, sobretudo com empresas da região do Golfo Pérsico aumentando bastante as suas compras de aeronaves.
No entanto, uma preocupação que foi ignorada nos anos da recessão voltou à pauta: quem vai pilotar todas essas aeronaves?
"A demanda urgente por pessoas competentes é um tema global que está presente agora e é muito real", diz a vice-presidente da Boeing Flight Services, Sherry Carbary.
As últimas previsões da Airbus indicam que o tráfego aéreo vai crescer 4,7% por ano durante as próximas duas décadas. A Boeing prevê crescimento anual de 5%. Isso significa um aumento total de 29 mil a 35 mil aeronaves voando.
Baseados nos números da Boeing, a demanda mundial exigiria 498 mil novos pilotos nos próximos 20 anos.
Mercados emergentes
A Europa e os Estados Unidos são as regiões com maior demanda por novos pilotos no longo prazo – dependendo de como suas economias se recuperarem da crise global. Mas, no curto prazo, as economias emergentes apresentam o maior crescimento.
Nick Leontidis, presidente das operações de treinamento da CAE, uma das maiores fornecedoras de simuladores de voos, disse que há outras tendências de mercado contribuindo para o aumento na demanda por pilotos.
Pilotos mais experientes recrutados em um grande momento de expansão ocorrido nos anos 1980 e 1990 estão se aproximando da aposentadoria, exatamente no momento em que cresce a demanda nos países emergentes e em que a economia americana passa por uma recuperação.
Na última década, o treinamento e recrutamento de pilotos caiu nos Estados Unidos e na Europa, com muitas demissões. Leontidis diz não ver impedimentos para que os pilotos que perderam seus empregos retomem suas carreiras.
"Enquanto tiverem o certificado médico necessário, podem voltar à ativa", diz.
Mas isso não bastaria para suprir a demanda, opina Leontidis.
Outro fator são as exigências maiores feitas por novas regulações nos Estados Unidos: O governo aumentou o período de experiência e de descanso necessários.
Com isso, as empresas têm adotado estratégias mais agressivas de competição, em alguns casos oferecendo salários e condições melhores para os pilotos mais talentosos.
'Demanda grande'
A Etihad, de Abu Dhabi, revelou no domingo que fez uma compra de 199 aeronaves. A empresa também está comprando simuladores de voo no valor de US$ 200 milhões (R$ 400 milhões).
A Etihad está investindo bastante no seu programa de cadetes: são 50 recrutas novos a cada ano.
"A demanda é bastante grande", diz Richard Hill, chefe de operações da Etihad. "Nós não precisamos nem anunciar as vagas, a palavra certa sempre chega a quem precisa."
Ele não se diz preocupado com uma possível escassez de pilotos.
"Estou neste negócio há 32 anos, e houve a tal escassez iminente de pilotos todos os anos."
Mas mesmo ele reconhece que o mercado de aviação está se expandindo em um ritmo acelerado nos Estados Unidos e na Europa.
Por isso, sua empresa está intensificando seus programas de treinamento.