As companhias aéreas foram à presidente Dilma Rousseff pedir uma nova política de preços para o querosene de aviação. Alegam que os preços praticados no país estão entre os mais altos do mundo e têm sido um impeditivo para a ampliação do negócio da aviação comercial. O querosene, calculam as empresas, já representa 43% do custo atual das companhias, o que torna as passagens emitidas no Brasil proporcionalmente mais caras do que a de vários países.
É possível que as empresas tenham razão. Impedida de reajustar os preços da gasolina e do óleo diesel que produz e que importa, a Petrobras não tem sofrido essa limitação quanto ao querosene fornecido à aviação. As companhias aéreas querem que o governo abra negociações em nível técnico para corrigir eventuais distorções e estabelecer uma política de longo prazo para esse item.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz, transmitiu à presidente a pretensão das companhias de dobrar, até 2020, o total de passageiros transportados pela aviação comercial brasileira, que, em 2012, estabeleceu um recorde, ao superar os 100 milhões de usuários atendidos (os embarques em voos domésticos e internacionais somaram 101.354.224).
Esse movimento significou crescimento de 9,48% em relação ao total de pessoas transportadas em 2011, mantendo a média de expansão dos últimos anos e deixando muito longe o crescimento de apenas 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2012.
Mas a presidente Dilma, ao examinar a solicitação das companhias, certamente levará em conta a lista de deficiências que infernizam a vida de quem é obrigado ao uso frequente de transporte aéreo. Se houve aumento da demanda por voos nacionais e internacionais no país, as empresas não corresponderam a esse crescimento com mais oferta de assentos e, muito menos, com a melhor qualidade dos serviços.
Continuam frequentes os atrasos e os cancelamentos de voos sem maiores explicações aos passageiros. A demora nas filas de check-in soma-se ao desconforto proporcionado pela deficiente infraestrutura aeroportuária (que não é responsabilidade das companhias, mas das administradoras dos terminais).
A fixação do preço do querosene pode ser revista, se houver disposição de ajudar na desoneração das companhias. Mas não deve o governo abrir mão de compromissos quanto à ampliação da oferta, da qualidade do serviço e do respeito aos direitos de quem paga as passagens. Tudo isso, é claro, começando por imediata redução geral nos preços, pois, conforme reportagens do Correio demonstraram, as tarifas cobradas aqui perdem feio em relação ao que se paga para voar as mesmas distâncias no exterior.
Fez bem a presidente em receber e ouvir o que têm a dizer as companhias aéreas. E, por se tratar de setor estratégico para o crescimento do país, sem dúvida é necessário apoiá-las. Mas de nada valerá qualquer esforço do governo se o primeiro beneficiado não for aquele que não pode nunca deixar de ser o objetivo de todo serviço público: o usuário.