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Informe Otálvora – Como se armaram as negociações Santos – FARC

Vídeo divulgado pelas FARC sobre as negociações :FARC – Em Vídeo confirmam processo de paz e criticam Brasil Link

Texto em espanhol – Informe Otálvora – Cómo se armaron las negociaciones Santos–FARC Link

Edgar C. Otálvora
Noticiasclic.com

Tradução: Gustavo Nardon
Desfesanet Agência de Notícias

As conversas entre o governo de Juan Manuela Santos e as FARC, confirmadas oficialmente en 27 de agosto de 2012, foram um segredo mal guardado. Tanto o presidente da Colômbia como seu Chanceler mentiram, sem vergonha nenhuma, para preservar um mistério difícil de manter devido ao número e variedade dos implicados.

Em 14 de março de 2012, os jornalistas, Yamid Amat e María Isabel Rueda, começaram o programa “El Gran Reportaje” (A Grande Reportagem), com uma entrevista do presidente da Colômbia. Uma pergunta obrigatória era sobre os resultados de uma visita de várias horas que Santos realizou a Cuba uma semana antes. O mandatário preferiu relatar sobre a saúde de Hugo Chávez ao qual foi visitar no hospital de Havana. Diante da insistência dos jornalistas, Santos confessou haver conversado sobre o tema da guerrilha em sua reunião com Raúl Castro, mas negou que estivessem concentrando negociações com as Farc ou com ELN. Provavelmente foi a primeira vez que o governo de Santos negou o que já começava a ser um “segredo”.

Em 20 de agosto de 2012, durante um encontro com sua homóloga mexicana, Patrícia Espinoza, em Cartagena, a Chanceler do governo Santos, María Ánglea Holguín afirmou: “Eu não tenho nenhum conhecimento, e somente quero reinteirar que esse é um tema que gerencia  o presidente Santos”.  Seria, provavelmente, a última ocasião na qual o governo colombiano desmentiu que estava em negociação com a Farc, nas quais estão envolvidos diretamente pelo menos quatro governos estrangeiros e cuja execução não pode ser feita sem o conhecimento da Chancelaria.

Na segunda-feira, 09 de janeiro de 2012, as FARC emitiram um comunicado que poderia ser o começo de uma nova etapa de negociações de paz na Colômbia. Timoleín Jiménez, Timochenko, propôs ao governo Santos retomar as negociações que entre 1999 e 2002 antecipou o governo de Andres Pastrana Arango e o chefe guerrilheiro Manuel Marulanda na zona desmilitarizada de El Caguán. Timochenko, que assumiu o comando do Estado Maior Central das Farc depois da morte de Alfonso Cano ao final de 2011, propunha abrir negociações temáticas que não incluíam somente o aspecto da desmobilização militar. Os temas propostos por Timochenko agora aparecem no documento subscrito nas conversas investigativas para as negociações Santos-FARC.

Não queremos mais retórica, o país apela por paz. Que se esqueçam de um "novo Caguán” foi a resposta pública de Santos a Timochenko via Twitter. Com tudo, nos bastidores começava uma intensa gestão de Santos para criar condições, internas e externas, para conversas diretas de seu governo com as Farc.

Em 02 de fevereiro de 2012, do Salão Boyacá do Palácio de Miraflores, os presidentes Evo Morales e Rafael Correa colocaram em perigo o início das negociações Santos-FARC. Aparentemente recuperado de saúde, Hugo Chávez retomou sua agenda internacional. Para esse dia convocou a cúpula da ALBA, por a ocasião do vigésimo aniversário de seu golpe contra o governo de Carlos Andrés Pérez. No meio da reunião, Morales levantou a suspeita de que os governos da ALBA boicotaram a Cúpula das Américas prevista para 14 de abril de 2012 em Cartagena, em resposta ao que Cuba não havia sido convidada pela Colômbia. A proposta pegou Chávez desprevenido que acolheu a proposta do chanceler cubano, Bruno Rodríguez, de adiar qualquer decisão a respeito e fazê-la depender de uma próxima reunião de chanceleres. Ficou demonstrado que um início anti-imperialista de Morales e uma das usuais bravatas de Correa não são suficientes para torcer a linha política do Eixo Caracas – Havana. Mas em Bogotá se acenderam as luzes vermelhas.

No pronunciamento de ALBA em Caracas fez com que o governo de Santos iniciasse uma rápida mobilização diplomática, buscando medir o estado real de opinião do regime cubano sobre a Cúpula das Américas e o impacto que ele poderia ter sobre o início das negociações com as Farc.

O chamado boicote da Cúpula das Américas era um blefe de Morales e Correa ou uma linha acordada por Caracas e Havana Dado que Castro e Chávez não poderiam se desligar da posição anti-imperialista de seus sócios, até onde isso poderia afetar o apoio de Cuba e Venezuela no planejamento de abordagem com as FARC? Estas perguntas rodeavam o palácio presidencial colombiano quando Santos ordenou a sua Chanceler, María Ángela Holguín, adiantar sua planejada viagem a Cuba. Após intensas conversas telefônicas com os Chanceleres da Venezuela e Equador, Holguín aterrizou em Havana em 08 de fevereiro de 2012, onde foi recebido por Raúl Castro. Santos queria a versão da real posição do governo cubano.

Em 07 de março de 2012, o próprio Santos viajou para Havana. Na companhia de seu Chanceler, o presidente colombiano participou de três reuniões. Na primeira delas, que incluía um almoço no Palácio da revolução, Santos encontrou-se com Raúl Castro. Logo se reuniria com Hugo Chávez no Centro de Investigações Médico-Cirúrgico, reunião na qual participaram ambos os Chanceleres. A terceira reunião juntou Santos, Chávez e Castro. Segundo o colombiano, sua viagem a Cuba foi uma ideia proposta por Hugo Chávez que permanecia hospitalizado desde 24 de fevereiro de 2012 depois do anúncio da aparição de um novo tumor cancerígeno.

Castro e Chávez se comprometeram a não boicotar a Cúpula das Américas e a realizar gestões para que Rafael Correa e Evo Morales baixassem o tom dos ataques a Colombia: os slogans anti-imperialista de ALBA dirigiam-se até os EUA desculpando a Colômbia. O tema que mais preocupava a Santos ficou claro: as negociações com as Farc poderiam seguir seu curso em Cuba. A Venezuela continuaria proporcionando seu apoio logístico que, segundo várias fontes, se concentrava em garantir a transferência dos porta-vozes das FARC até e desde Cuba. Segundo algumas fontes, pelo menos uma das reuniões entre os delegados de Santos e das Farc tiveram lugar em território venezuelano.

Em 08 de março de 2012 se encontraram em Bogotá os ex-presidentes do Brasil, Chile e Espanha, Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Lagos e Felipe Gonzáles. Os três foram recepcionados na capital colombiana para, posteriormente, serem transferidos a Caracas, onde seriam expositores em um evento promocional de um banco venezuelano. Pouco antes de partirem num voo para a Venezuela, os três se reuniram com Santos no salão cerimonial do terminal militar (CATAM) no Aeroporto El Dorado de Bogotá. Sem pedir ou sem esperar que guardassem segredo, o colombiano narrou a seus interlocutores os detalhes de sua visita a Cuba um dia antes e os manteve informados sobre as conversas que havia iniciado com as FARC.

Evo Morales, antes dos conselhos recebidos, atenuou sobre o tema de Cuba e a Cúpula das Américas. O presidente boliviano viajou a Bogotá em 15 de março de 2012 em visita oficial e desde o Palácio de Nariño confirmou sua assistência à Cúpula organizada por Santos. Deixando de lado sua proposta de boicotar a cúpula panamericana, Morales aceitou presidir uma das sessões sobre temas sociais. O compromisso de um jogo de futebol entre equipes encabeçadas por Morales e Santos selou o acordo de ALBA de não sabotar o evento com o qual o presidente colombiano esperava aproximar suas relações diretas com Barack Obama.

Uma das peças do quebra-cabeça das negociações é Piedad Córdoba. A ex-senadora, de 57 anos de idade, está desabilitada desde 2010 para exercer cargos públicos até o ano de 2028. Sobre ela pesam duas sentenças baseadas nas relações com as FARC e o financiamento que ela forneceu ilegalmente a um candidato ao Parlamento.

Estreitamente vinculada ao governo de Hugo Chávez, a ativista representa, dentro da política colombiana, as linhas do Eixo Caracas-Havana. Depois de sua destituição, Córdoba foi contratada como produtora e apresentadora no canal “Telesur”, de propriedade cubano-venezuelano, financiado pelo fisco da Venezuela. Este cargo lhe facilitou viagens internacionais, incluindo estadias em Cuba.

Conhecedora de primeira mão dos términos das negociações em Havana, Piedad Córdoba liderou a criação de uma aliança de organizações de esquerda sob a denominação de “Marcha Patriótica”, que fez sua estreia nas ruas de Bogotá em 21 de abril de 2012. Segundo diversas fontes, a “Marcha Patriótica” materializa a ideia de criar uma estrutura pública de esquerda radical colombiana que sirva de base para um futuro partido político. Esse é um projeto várias vezes tentando pelas Farc, agora impulsionado pelo governo de Hugo Chávez e que está recebendo o apoio internacional de uma ativa rede de organizações de esquerda, tanto latino-americanas quanto europeias.

O papel da “Marcha Patriótica” é canalizar protestos setoriais e assumir o clamor de diversos “atores sociais” sensíveis ao conflito armado. Esta linha coincide com a exigência das Farc de incluir aos “setores sociais” a ostensiva presença do canal “Telesur” e de Piedad Córdoba durante ações de grupos indígenas contra efetivos militares no departamento de Cauca em meados de junho, parecem confirmar isso.

O plano de forças a presença de Piedad Córdoba no contexto das negociações FARC-Santos, a qual se opõe ao governo colombiano, já começou a ser executado. Em 31 de agosto de 2012, Córdoba pediu “participação direta” de seu movimento nos diálogos de paz.

O ingresso do ex-sindicalista e ex-presidente de Bogotá Lucho Garzón ao governo de santos, com posto de ministro sem pasta, parecia buscar compensar a ofensiva de rua que a aliada de Hugo Chávez se propõe a realizar para assumir o clamor dos “setores sociais”.

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