Mais mulheres na força pública da Colômbia

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Yolima Dussán


A incorporação do primeiro grupo de mulheres suboficiais, 35 no total, ao curso de armas do Exército colombiano, a partir de março deste ano, é uma amostra a mais do processo desenvolvido pelas Forças Armadas da Colômbia para ampliar a participação feminina em todas as atividades de defesa e soberania da nação. Esse curso, o centésimo oferecido pela Escola de Suboficiais Inocencio Chincá, localizada no Forte Militar de Tolemaida, é o primeiro que inclui mulheres.

Esse foi um elo a mais da audaz corrente de ações criadas pelo Ministério da Defesa Nacional, pelas Forças Militares e pela Polícia Nacional da Colômbia, que modificaram seus regulamentos de carreira para possibilitar que as mulheres integrantes das forças públicas alcancem qualquer grau da carreira militar ou policial, inclusive o grau de general, ao participar de forma ativa em cenários que incluem operações de comando e controle de tropas.

História e indicadores

O panorama mudou de maneira extraordinária desde 1976, quando o Exército da Colômbia autorizou o ingresso de mulheres no escalão militar, na categoria de oficial do corpo administrativo. Até 31 de dezembro de 2016, as Forças Armadas da Colômbia contaram com 3.838 mulheres: 1.515 mulheres entre oficiais e suboficiais no Exército, 780 na Marinha Nacional e 1.038 na Força Aérea, segundo os dados entregues pelo Ministério da Defesa Nacional. Seu último número de membros masculinos no serviço é 232.843.

Por outro lado, a Polícia Nacional, entidade também comprometida com a política de equidade de gêneros, registrou 13.461 mulheres, o que representa 9 por cento de participação feminina em seus grupos, formados também por 140.460 homens.

Durante mais de 40 anos, o chamado “sexo frágil” só pôde desempenhar cargos administrativos nas Forças Militares nas áreas de medicina, odontologia, bacteriologia, arquitetura, direito, contabilidade, comunicação, ciências da educação e administração de empresas. Em 2009, o Exército incorporou as primeiras 62 suboficiais para estabelecer uma política de equidade de gênero.

“Hoje o Exército conta com duas Generais e três Subtenentes que abriram caminho para que as mulheres com graus subalternos e aquelas que sonham em usar o uniforme sigam seus passos, pois elas criaram novos cenários de participação, onde as mulheres podem demonstrar suas forças e capacidades”, disse à Diálogo o General-de-Exército Alberto José Mejía Ferrero, comandante do Exército Nacional.

“A incorporação de mais mulheres faz parte estratégica da transformação para o Exército do futuro, como um exército multimissões”, acrescentou.

Em julho de 2016, o Exército criou o primeiro Escritório de Gênero do Exército Nacional, para alinhar as políticas da instituição com a agenda nacional e internacional sobre os temas de equidade de gênero, foco diferencial e prevenção da violência baseada em gênero.

“A gestão desenvolvida pelas mulheres dentro do Exército Nacional foi exaltada nacional e internacionalmente, como primeira medida no campo militar, além dos campos profissionais e esportivos, o que demonstra a capacidade de serem profissionais completas a serviço das forças armadas”, disse o Gen Ex Mejía à Diálogo.

Primeiro Escritório de Gênero
 

Encabeçando este primeiro Escritório de Gênero está a Coronel María Cristina Barrios Jiménez, uma militar de destaque, exemplo da evolução feminina. Com 24 anos de carreira militar, a Cel Barrios sabe que sua trajetória como chefe de Psicologia de Aviação na Brigada de Aviação do Exército, chefe de Psicologia militar e, agora, chefe de pessoal, é reconhecida como um exemplo no desempenho da mulher nas forças armadas.

“Vivemos em uma sociedade machista. Romper com as atitudes dos homens, que tradicionalmente olhavam para a mulher isolada da carreira militar, foi o mais complicado. Os homens começam a entender que a inclusão da mulher beneficia o resultado de ações em que o equilíbrio oferecido por ela pode fazer a diferença”, a Cel Barrios garantiu à Diálogo.

A coordenadora do Escritório de Gênero, a Primeiro-Tenente Claudia Martínez, explicou que ali se trabalha na formulação de estratégias e políticas orientadas a incluir de forma progressiva e articulada a equidade de gênero.

“A razão de ser deste escritório é gerar o pensamento inclusivo, ser uma ferramenta que mostre a inclusão da mulher para que ela cresça. A mulher é altamente competente, mas há muita descrença. Temos que combater isso anunciando todas as conquistas”, disse.

O processo da inclusão

Mas, quais fatores influenciaram para que a história da mulher na vida militar mudasse? O Coronel Carlos Alfredo Castro Pinzón, decano da faculdade de Ciências Sociais da Escola Militar de Cadetes “General José María Córdova” (ESMIC), que neste momento está capacitando 29 mulheres em ciências militares e 19 em outras profissões, disse que esta abertura era uma etapa óbvia nas Forças Armadas. “Os espaços ganhos pela mulher na sociedade civil também devem ocorrer internamente. O mundo mudou, as mulheres demonstraram que podiam desempenhar outras funções na sociedade e isso também precisava acontecer dentro das instituições militares e policiais.”

O Cel Castro, comandante de um batalhão de 100 cadetes mulheres, diz que, graças a seu compromisso, conduta e desempenho, a mulher gerou um treinamento e uma capacitação onde não há diferença de gêneros. “Na ESMIC, tanto homens quanto mulheres realizam os mesmos treinamentos físicos, de tiro, cursos básicos de armas e cursos avançados de combate”, disse.

“No alto comando, estuda-se a abertura do espaço para que as mulheres possam ingressar na área da artilharia. Por isso criamos o Observatório de Equidade de Gênero, Segurança e Força Pública”, garantiu.

Primeiro no país, segundo na América Latina, esse observatório, que já tem sete anos de trabalho, responde a um interesse investigativo devido a diferentes situações geradas pela presença de mulheres em uma instituição tradicionalmente masculina por 102 anos.

“O observatório é modelo para ser aplicado em outras forças e tende a posicionar-se como o centro consultor no assunto mais importante das Forças Armadas”, disse o Cel Castro.

A força pública colombiana avança em um processo articulado na participação da mulher, no qual “buscamos alcançar, algum dia, os níveis de inclusão feminina conseguidos por países como os Estados Unidos e Israel”, concluiu o Cel Castro.

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